Utilização bem sucedida de paredes de concreto depende do sistema de fôrma, da qualidade do concreto, de projeto adequado e de uma execução sincronizada com outros sistemas construtivos.
Por Gisele C. Cichinelli
As paredes de concreto encontraram importante aplicação em obras habitacionais de padrão popular, especialmente nos empreendimentos do Programa Minha Casa Minha Vida
Nos últimos anos, o sistema de paredes de concreto avançou no Brasil, mas não no ritmo desejado pelas empresas fabricantes de fôrmas. A falta de padronização dos projetos, a burocracia na liberação de financiamentos e a falta de maturidade própria de um mercado em evolução são citadas por especialistas como os principais entraves para a expansão do segmento. A necessidade de ultrapassar as fronteiras dos projetos econômicos também está na lista de desafios a serem superados pelas empresas. “Um dos erros comuns é achar que o sistema de paredes de concreto só se destina a programas habitacionais populares, como o Minha Casa Minha Vida. O mercado precisa entender que é possível atender vários tipos de construção, tais como o industrial e comercial, com essa solução“, diz Marcelo Milech, diretor de negócios da SH Fôrmas.
Marcelo Milech – “A modulação e o projeto fazem toda diferença na adaptação e na produtividade da obra. Quando falamos em obras de duas mil unidades, o produto é muito competitivo. No caso do alumínio, além da leveza, o material tem durabilidade elevada. Como são projetos muito específicos, a conta acaba fechando para a locação”.
Escolha certa
Para a execução das paredes de concreto, o mercado brasileiro disponibiliza basicamente três tipos de fôrmas: as metálicas, com quadros e chapas em alumínio ou aço; as metálicas com compensado, compostas por quadros em alumínio ou aço e chapas de madeira; e as fôrmas plásticas, formadas por quadros e chapas de plástico reciclável. A utilização de moldes adequados potencializa os ganhos do sistema, por isso a escolha do material deve levar em conta fatores como produtividade da mão de obra, peso por metro quadrado dos painéis, número de peças do sistema, durabilidade da chapa e possibilidade de reutilizações. Fatores como modulação dos painéis, flexibilidade diante das opções de projeto, adequação à fixação de embutidos e suporte técnico oferecido pelo fornecedor também são decisivos para a compra ou locação do tipo ideal de fôrma.
A existência de um projeto de fôrmas bem detalhado também é chave para viabilizar o sistema de paredes de concreto e sua qualidade de entrega. No documento, devem constar o detalhamento dos painéis e de equipamentos auxiliares, as peças de travamento, prumo e escoramento e, sobretudo, a sequência de montagem e desmontagem. Do ponto de vista arquitetônico, algumas diretrizes são importantes, como definição de medidas modulares, existência de geometrias simétricas e paredes alinhadas. “As regiões de transição devem ser pensadas para evitar elementos estruturais que prejudiquem a velocidade de aplicação do sistema, como, por exemplo, a presença de vigas e pilares“, explica Thales Couto Braguim, engenheiro da OSMB, escritório de projeto especializado em projetos de paredes de concreto.
Concreto e limpeza
Para a montagem das fôrmas, é fundamental que a fundação esteja nivelada. Outro ponto importante para o desempenho do sistema é a qualidade do concreto. Como as paredes são moldadas em uma única etapa e em condições que não permitem o uso de vibradores, a massa deve apresentar elevada fluidez e plasticidade e ser lançada de modo homogêneo, evitando vazios de concretagem. “Usamos tanto o concreto convencional com slump de 180 mm, como o concreto autoadensável com abatimento de 700 mm. Ambos apresentam bons resultados, principalmente após o acerto do traço em termos de quantidade de cimento e de fibra de polipropileno“, explica Braguim.
Dentre as patologias mais comuns envolvendo o sistema estão a ocorrência de pequenas fissuras devido à retração. Por isso, além do cuidado na composição do traço, a cura química nas paredes e lajes deve ser feita de forma rigorosa.
A retirada das estruturas provisórias deve ser feita após o concreto atingir a resistência prevista no projeto. Após a desmontagem, os painéis precisam ser limpos para remoção da argamassa aderida a eles. Essa etapa é fundamental para garantir a vida útil das fôrmas. Ela pode ser feita com a utilização de jatos fortes de água (com a pressão da água regulada para não danificar o acabamento das fôrmas), com uso de reagente ao concreto e ao desmoldante ou, ainda, com ferramentas com talhadeiras, palhas e escovas de aço.
Revista Construção e Mercado. Edição 152 – Março/2014.
http://construcaomercado.pini.com.br/negocios-incorporacao-construcao/152/artigo307910-1.aspx